Imaginar o leite da vaca como alimento agressor à saúde humana pode parecer, no mínimo, chocante para muitos. Mas será que o leite produzido por uma fêmea para alimentar um filhote que chegará a pesar quase uma tonelada, pode realmente fazer mal para nós seres humanos? Para compreendermos melhor essa questão, precisamos dissociar o leite materno do leite da vaca.
“O leite materno é o alimento mais perfeito que existe no mundo. Sua composição é especifica e sutilmente modificada de acordo com a necessidade do lactente”, afirma a especialista Denise Madi Carreiro, no livro “Alimentação: problemas e soluções para as doenças crônicas”.
Esse leite produz uma perfeita sincronia entre água, minerais, proteínas e ácidos graxos essenciais, suficientes para suprir as necessidades do bebê pelo menos até o sexto mês de vida.
Além disso, é rico em mecanismos imunológicos como IgA secretora, que promove a impermeabilização antisséptica das mucosas (digestiva, respiratória e urinária).O leite materno ainda possui lactoferrina, com ação bacteriostática, responsável por promover a retirada do ferro da mucosa, que poderia matar as bactérias saudáveis existentes nesse local.Também fornece lisoma, macrófagos e lactobacilos, todos eles protetores imunológicos do bebê.
Lactose
O leite da vaca também possui bons fatores imunológicos, porém não são próprios para o consumo humano, e sim do bezerro. Para se ter uma ideia, o homem é único mamífero que continua bebendo leite na fase adulta e o pior que é oriundo de outro animal.
Atualmente, está na moda falar da intolerância à lactose, o açúcar do leite. Mas esse está longe de ser o maior problema causado pelo leite da vaca. Devia-se, na verdade, falar dos problemas que o leite causa à saúde.
A intolerância à lactose realmente existe, pois o organismo é preparado para a digestão do leite apenas quando se é bebê, depois vai perdendo essa função.
Esse tipo de intolerância é capaz de causar sintomas como má digestão, flatulência e cólicas. Mas até em adultos, ela (intolerância) pode ser revertida por um bom equilíbrio de bactérias saudáveis intestinais. Mesmo a pessoa tendo produção baixa da lactase (enzima digestora), essas bactérias têm condições de digerir a lactose.
Proteínas/perigo
No entanto, o grande problema do leite são as proteínas lácteas, ou seja, a caseína, lactoalbumina, alfa-lactoalbumina e,principalmente a beta-lactoalbumina, que são de difíceis digestão e agressoras da mucosa intestinal.
Diversos estudos já confirmaram a presença de mais de 25 proteínas alergênicas no leite da vaca. Mas a resposta alérgica que ele promove, exceto entre 3% a 5% dos casos em crianças, não é imediata, mediada IgE (imunoglobina). Ela é do tipo tardia,mediada por IgE, ou, em outros casos, ocorre apenas reações de intolerância.
Essas reações irão produzir liberação de histamina, neuro-transmissor responsável pela resposta alérgica, só que em pequenas quantidades, não suficiente para uma resposta alérgica imediata, e sim para agir no cérebro produzindo uma sensação de bem-estar,relaxamento cerebral, que muitas vezes estão relacionadas ao vício desses alimentos (como acontece com o trigo).
Devido ao estímulo repetitivo provocado por esse alimento, os sintomas tardios estão relacionados a uma maior necessidade de se formar imunocomplexos, com queda de serotonina (neurotransmissor do bem-estar), levando a transtornos de ansiedade, compulsão por carboidratos, falta de saciedade, entre outros.
Inflamação
As proteínas alergogênicas do leite da vaca causam uma inflamação na mucosa intestinal, alterando sua permeabilidade. A permeabilidade de mucosa funciona como um filtro do intestino, que decide o que deve entrar para ser aproveitando pelo organismo. Quando ela está alterada, permite-se a passagem de moléculas grandes, que causam agressão ao sistema imunológico.
O aumento da permeabilidade intestinal provocado pela inflamação, também permite maior absorção de substâncias tóxicas, como metais pesados. Essa alteração causa ainda uma hiperatividade do sistema imune, podendo contribuir para sintomas e doenças que muitas vezes o médico não irá relacionar ao intestino, como otites, amigdalites, enterocolites e outras doenças inflamatórias - artrite reumatoides, tireoidite de Hashimoto, além de doenças autoimunes – enxaquecas, hiperatividade, depressão e outras alterações neurológicas.
Cálcio X doenças
Certamente, após ler esse artigo, você deve estar indagando sobre o cálcio contido no leite da vaca. Apesar de esse mineral estar em grandes concentrações nesse alimento, está bem menos disponível ao corpo quando presente nos vegetais, principalmente os verdes-escuros.
O leite da vaca possui uma alta concentração de cálcio, no entanto possui baixos níveis de magnésio. Esse desequilíbrio entre esses dois minerais no organismo irá favorecer depósito inadequado de cálcio no corpo, gerando microcalcificações, artrose, bursite, nódulos, cálculos urinários e calcificação arterial, favorecendo as doenças cardiovasculares, entre outros.
A fermentação dos vegetais no trato digestório contribui para a manutenção de um pH adequado nessa região do organismo, não só permitindo uma absorção maior de cálcio em relação a um alimento acidificante como o leite da vaca, mas também permitindo uma maior fixação do mineral no osso pela contribuição com alcalinização sanguínea.
Massa óssea
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o desequilíbrio em pH digestivo, o aumento da permeabilidade intestinal, disbiose (desequilíbrio das bactérias saudáveis) e liberação de substâncias pró-inflamatórias promovidas pelo leite, contribuem sim para osteopenia (perda de massa óssea) e osteoporose.
A chave para a cura ou prevenção da maioria das doenças está na saúde intestinal. O intestino é o maior órgão linfoide do corpo. Possuímos nele mais células impróprias (bactérias intestinais) do que as existentes em todo o corpo. No confucionismo, na China antiga, pensava-se que o cérebro estava localizado no abdome.
A prevenção da maioria das doenças está na saúde intestinal |
Com a evolução da ciência e da descoberta desse sistema como o maior sinalizador neuronal do corpo, começamos a pensar no intestino como o segundo cérebro do corpo, porém há quem acredite que ele seja o primeiro. Manter uma boa saúde intestinal, com a ingestão de vegetais, evitando os contaminantes que o agridem como agrotóxicos e conservantes, é uma grande ciência para uma vida saudável.
Costumo dizer que para ter saúde não tem atalhos. Os hábitos de vida são os maiores determinantes do que nosso corpo é. Cultivando bons hábitos estaremos não só armazenando qualidade de vida para um envelhecimento saudável, mas também, hoje sabemos pelos conhecimentos que viemos adquirindo com a nutrigenômica, que estaremos garantindo, assim, uma boa saúde genética e favorecendo a transmissão dessa saúde para as gerações que virão depois de nós.
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